A invasão estrangeira no mercado de trabalho no Brasil

Nelson Fukuyama*

Você já deve ter tomado conhecimento nos últimos tempos, ou através de noticiários, ou por algum conhecido, ou até mesmo por ter já passado por alguma experiência, do aumento de candidatos estrangeiros que estão concorrendo a uma vaga no mercado de trabalho nacional.

Pode acreditar isso é verdade. Pode ir se preparando para a disputa. Muitos estrangeiros, que antes viam o Brasil apenas como fonte de diversão, futebol, música, praias e a beleza natural brasileira, agora passam a considerá-lo como uma opção séria para o trabalho, como uma forma de fugir das turbulências financeiras de seus países de origem.

O que temer nessa concorrência? Será que os profissionais brasileiros, de qualquer nível deve temer essa invasão? Vale a pena lembrar alguns pontos que, de acordo com minha experiência, podem ser considerados como favoráveis para os estrangeiros e também a favor de um candidato brasileiro.

Em princípio, o estrangeiro tem a vantagem do nome. É pena dizer, mas, muitas vezes a disputa de uma vaga com um estrangeiro pode começar pelo nome. Sem nenhum preconceito, alguém com um nome Peter, John Paul, pode chamar mais atenção do que alguém chamado José. Um sobrenome do tipo Jones, McSandwich, pode soar mais charmoso do que um sobrenome brasileiro. A favor do nosso candidato, eu posso dizer que já vi e li muitos Zés ou Marias no comando de muitas organizações, inclusive que têm muitos colaboradores estrangeiros em seus quadros.

Segundo, a titulação acadêmica. Um europeu, que, por várias razões, consegue ter vários títulos acadêmicos, poder ter preferência, ainda que não tenha tanta experiência profissional. A favor do candidato nacional posso citar um caso de um amigo que nem tem tanta titulação acadêmica, concluiu sua graduação em uma universidade municipal, mas desde muito ocupa posições de destaque no mercado de trabalho, sendo atualmente um executivo de segundo escalão de um grande grupo de varejo.

Terceiro, a formação acadêmica. Um estrangeiro consegue ter uma formação acadêmica baseada em uma grade curricular mais exigente. Posso lembrar aqui de alguns colegas estrangeiros em empresas nas quais trabalhei que em assuntos como formação de custos e preços, por exemplo, davam um verdadeiro show de conhecimento. Eram temas que todos sabíamos mas que nem sempre tivemos ou demos uma atenção mais formal em sala de aula. Assim, se, em boa parte do curso, eles tratavam e discutiam estudos de casos reais, com pesquisas, estágios, e tudo, eu, pelo menos, era apenas informado sobre esses mesmos temas. Vantagem para eles, mas em assuntos de relacionamento profissional eu tenho certeza de que conseguia mais informações dos clientes do que eles, o que recuperava a vantagem no trabalho.

Um quarto, o idioma. As organizações esperam que os candidatos estrangeiros dominem o seu próprio idioma especialmente quando o cargo, a função, exige e cobra eficiência no dia a dia. Vantagem para o estrangeiro, pois isso é uma particularidade que nem todos nós podemos desenvolver ainda que se tenha a melhor escola e experiências no exterior. A grande vantagem para nós, e isso eu pude comprovar em várias situações na vida profissional, é que poucos deles conseguem ter habilidade para usar corretamente os seus conhecimentos, ou seja, não sabem preparar e escrever corretamente um relatório em seu próprio idioma.

Conhecimento do mercado de atuação da organização. Há muito interessante de estrangeiros em vir trabalhar na área financeira, por exemplo, dando até mesmo continuidade às suas ocupações nos países onde atuam. Talvez eles consigam ter uma visão mais ampla de mercado e assim poderão explorar com mais domínio as operações financeiras especialmente aqueles que abrangem mercados internacionais. Nesse aspecto, vejo que muitos colegas brasileiros que já vêm atuando no mercado financeiro são verdadeiras feras e já demonstram habilidade após a vivência de vários anos.

Enfim, esses são alguns dos vários os aspectos que podem ser considerados quando se trata de competir e disputar uma vaga com algum profissional estrangeiro. Certamente cada um terá outros para serem elencados.

O importante no que pretendo transmitir aqui é que independente de quem seja o seu concorrente a uma vaga no mercado de trabalho, seja para conseguir o primeiro emprego, seja para trocar de posição, você deve ter em mente as competências deles, sem, contudo, desvalorizar os seus próprios méritos. Nada a temer. Cada profissional tem as suas vantagens e desvantagens. Tire proveito disso.

* Nelson Fukuyama é Editor do Portal Dicas Profissionais com experiências profissionais vividas em organizações multinacionais e nacionais.

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