A lenda de Sísifo e o nosso corre diário

Nelson Fukuyama*

Você que anda estressado, sem ânimo para nada, querendo desistir de tudo, pergunto: você já ouviu falar da lenda de Sísifo?

Então, Sísifo foi condenado por desafiar os deuses, a empurrar uma rocha montanha acima, apenas para vê-la rolar de volta e repetir esse ciclo para sempre. Um lenda que pode ser comparada a muitas de nossas tarefas diárias: o trabalho repetitivo, a busca incessante por mais dinheiro, o acúmulo de bens, o rolar infinito do feed nas redes sociais.

Ah! A vida é muitas vezes assim, cheia de desafios. Mas, desculpem a expressão, não “enche o saco” viver a vida toda ter essa sensação de carregar um fardo em todos os sentidos da nossa vida?
Claro, que sim, mas ao invés de ficar lamentando, eu quero propor uma mudança, de perspectiva de vida, mudança do mindset. Como?

Primeira mudança, aceitar o absurdo da vida moderna. No caso de Sísifo, ele aceitou o absurdo que representava a rocha, seu destino e optou por tornar-se dono do seu próprio nariz, de seu próprio destino, encontrando um propósito a cada passo, ter a sua dignidade, a sua razão para continuar. Que tal tentar essa mudança?

Segunda mudança, encontrar a alegria durante a caminhada, nas pequenas conquistas. Sísifo encontrava um significado no processo. Da mesma forma, em nossa vida, a felicidade pode não estar na linha de chegada, mas no caminho. Em vez de focar apenas no resultado final – a promoção, a casa nova, o corpo perfeito – podemos encontrar alegria no progresso diário. Como?

– No trabalho: a satisfação de resolver um problema complexo, de colaborar com colegas, de aprender algo novo.

– Nos estudos: o prazer de entender um conceito difícil, a emoção de uma nova descoberta.

-Na vida pessoal: a gratidão por um momento de tranquilidade, a satisfação de terminar uma tarefa doméstica, o carinho de uma conversa com um amigo.

Terceira mudança: transformar uma vida cheia de desafios numa mostra de resiliência. A rocha de Sísifo é a mesma que podemos estar enfrentando: a dor, a perda, os fracassos. Em vez de nos vitimizarmos, podemos aprender com Sísifo a enfrentar cada descida da rocha com determinação. A cada vez que a rocha cai, Sísifo descia a montanha para começar de novo. Ele não fugia da realidade, a enfrentava de frente. Assim também nós podemos encarar nossos próprios fracassos e frustrações com coragem e a capacidade de nos reerguer.

A lenda de Sísifo, em vez de ser uma história de punição e desespero, pode ser uma celebração da liberdade, da dignidade humana e da capacidade de encontrar propósito no ato de viver. É um lembrete de que, mesmo em face de tarefas repetitivas ou de um destino incerto, podemos encontrar alegria, significado e realização.