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Como anda o seu foco?

Posted: 30 de junho de 2015 às 8:56 am   /   by   /   comments (0)

Eduardo Zugaib*

Um milhão vezes zero é zero. A sabedoria dessa afirmação vale uma prosa aprofundada, sempre na busca das conclusões simples, aquelas que mais nos ensinam. E o recado desse pouquinho é simples: não empenhe intensidade onde a possibilidade de resultado não existe.

Isso implica em avaliar continuamente cada uma de nossas atividades e relações, percebendo quais valem a pena manter e aperfeiçoar, quais podem frutificar com um pouco mais de dedicação e, principalmente, quais são aquelas que tentamos fazer germinar em terreno insalubre. Vez ou outra é preciso parar, avaliar tudo aquilo que ocupa nosso tempo – especialmente quando ele começa a faltar – identificando onde está havendo dispersão.

Stephen Covey, autor do livro “Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes”, nos brindou com uma matriz do tempo que divide nossas ações e atividades em quatro grandes grupos:

• Importantes e Urgentes

• Importantes e Não Urgentes

• Não Importantes e Urgentes

• Não Importantes e Não Urgentes

Quatro grupos ocupando 100% do nosso tempo e energia. Num raciocínio rápido – a famosa “conta de padaria” – podemos dizer que cada grupo ocupa 1/4 da nossa vida. Um deles é formado por atividades que não fazem a menor diferença e só geram dispersão: o grupo Não Importante e Não Urgente. Pense bem: eliminando esse grupo, recuperamos 25% do tempo, aquele mesmo tempo que, vez ou outra, percebemos estar faltando. Atacamos a dispersão na raiz.

A sugestão de buscar evitar a dispersão, nem que seja um pouquinho por dia, também é válida para o nosso desenvolvimento profissional e nossa carreira, que se tornam muito mais acertados quando trabalhamos sobre os nossos pontos fortes, sobre nossas verdadeiras vocações. Logo, conhecer-se pra valer, não só a partir de uma autoavaliação, mas também contando com pessoas que gostem da gente e que possam emitir opiniões sinceras a respeito dos nossos pontos fortes, é um movimento mais que necessário quando se busca a felicidade, a realização.

Desde pequeno, intuitivamente, sempre ficou evidente que minha maior vocação, que a área onde me sentia em “casa”, era a área de Humanas. Na adolescência, porém, o peso da opinião familiar acabou me direcionando para uma formação técnica na área de Exatas.

Sinta o drama: alguém que interpretava o mundo através da palavra tentando sobreviver no universo dos números. É como um aluno que tive. Quando questionei o garoto sobre qual carreira ele seguiria, ele me disse que, mesmo odiando ver sangue e sem muita paciência com pessoas, pretendia estudar enfermagem porque o pai havia dito que aquela área era a que “dava emprego”. Pois é.

Confesso que, no dia em que ouvi essa resposta, já mais adulto e calejado, foi impossível não me identificar com ele, quando tinha a mesma idade: perdido, confuso, com uma vocação chamando-me para um lado e o mundo levando-me para outro. Nadando contra uma forte correnteza e, por isso, cansado e tendo como única perspectiva seguir o caminho sugerido para mim. Enquanto eu não decidisse e não sustentasse pra valer a minha decisão, sem “viajar na maionese”, alguém decidiria tudo por mim. Afinal, qualquer “eu acho que quero ser…” seria considerado um delírio hormonal adolescente, daqueles que fazem uma parcela considerável de quem passa por essa fase da vida acreditar que tem grandes chances como cantor, ator ou modelo, por pura influência da mídia. Mesmo não sabendo cantar, não sabendo atuar, não tendo a menor fotogenia e tampouco algum traquejo em desfilar.

Tudo bem, a adolescência é pra isso mesmo. E o que percebemos é que, aqueles que realmente têm alguma vocação para essas atividades que falamos – cantar, atuar e ser modelo – quando a percebem e tratam de investir tempo e dedicação a elas, ampliam as possibilidades dos resultados, deixando a turma do embalo comendo poeira. O músico profissional de hoje certamente sentiu um calor no peito, ao dedilhar um violão surrado no intervalo do colégio, bem diferente daqueles que compraram um violão novinho e o encostaram em menos de 2 meses. Quando o assunto é vocação, é fundamental que nos apaixonemos pela causa, não pelo efeito.

Efeito é… efeito! É consequência: ganhar dinheiro, ser reconhecido, aceito e admirado pelo grupo. Quando focamos apenas no efeito, não raro ficamos pulando de galho em galho, iniciando uma série de atividades, de “negócios do século”, dos quais abrimos mão rapidamente porque não procuramos compreender ou vivenciar a causa, que é uma só, independente da área em que se atue: a dedicação que empreendemos quando nos sentimos fazendo aquilo que gostamos, que nos realiza enquanto pessoas criativas e produtivas, que nos faz perder a noção do tempo.

Portanto, definir foco é um dos principais fatores de sucesso na trajetória de profissionais e empresas. Saber onde se quer chegar, com a consciência daquilo que sabe fazer de melhor, otimiza tempo, esforço e dinheiro.

Assim, a frase que abre esse texto, “um milhão vezes zero é zero”, traduz-se nas ações em que investimos esforço, energia e tempo focados apenas no efeito. E que, quando saímos, acabamos nos percebendo menores do que quando entramos. Não sobra muita coisa, pois o resultado é… zero! Exatamente o resultado da minha carreira em Exatas, que se transformou numa grande tortura.

Eduardo Zugaib é escritor, profissional de comunicação e marketing, professor de pós-graduação, palestrante motivacional e comportamental. Ministra treinamentos nas áreas de Desenvolvimento Humano e Performance Organizacional.