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Não coloque a culpa no trabalho

Posted: 30 de janeiro de 2019 às 8:06 am   /   by   /   comments (0)

Lucilene Antunes*

Nos dias atuais alguns pensamentos são equivocados e alguns valores distorcidos, e o que é pior, esses são passados aos jovens e crianças criando seres humanos frustrados e depressivos.

Hoje vemos mulheres trabalhando e se sentindo culpadas de não darem atenção aos filhos e homens que nos momentos de lazer se dedicam a outras atividades colocando toda a culpa da falta de atenção e amor no trabalho fazendo com que crianças e adolescentes vejam o trabalho como algo nocivo, algo ruim, um avesso do lazer, um empecilho ás boas relações familiares.

Ledo engano esse. Quando criança meu pai chegava a fazer 48 horas de trabalho sem folga, não tínhamos televisão e internet em casa pois morávamos na colônia da usina onde ele trabalhava e ele foi o melhor contador de histórias que conheci. As histórias do macaco e da onça eram uma mistura de malandragem e inocência que nunca irei esquecer, além é claro de muito…muito…engraçadas. Lembro-me de que quando bem pequena tentava abrir seus olhos cansados do trabalho e repetia: ¨Abe os dóio pai, abe o dóio”, porque queria ouvir de novo e de novo histórias que nunca mais ouvi tão bem contadas.

Minha mãe também, muito atarefada em uma época onde não existiam comidas prontas e até a lingüiça era feita em casa, artesanalmente, contava histórias para eu comer, inquieta e ranzinza que eu era querendo descobrir o mundo e sem paciência para parar, e ela mesmo atarefada, tinha um tempo pra mim porque o tempo naquela época era melhor aproveitado. Me ensinou a ter fé e os verdadeiros valores de ética e honestidade.

E sabem quais traumas que tenho dessa época? Dos meus pais trabalharem muito? Nenhum. O que ficou foi um orgulho enorme da minha criação tão cheia de detalhes e significados. E sabem como vejo o trabalho? Como uma benção de Deus, uma oportunidade de produzir, de ser útil, de conquistar as coisas para fazer bem aos outros. Meu pai me levava em seu local de trabalho e quando ficava tempo sem voltar pra casa eu tinha orgulho de saber que ele estava sendo útil, produzindo, para poder adquirir coisas para nós. Eu sempre vi o trabalho como uma prova de amor.

Se eu pudesse fazer uma sugestão, embora ninguém goste de conselhos, iria sugerir para educar de maneira diferente nossas crianças. Mostre a elas o valor do trabalho. A cada objeto adquirido mostre como é feito, mostre todo o trabalho envolvido na criação e produção de cada coisa. Leve as crianças em sítios e fazendas e explique que tudo que se colhe tem que ser plantado. Explique para elas como a natureza é sábia, como tudo tem sua hora e lugar e que existe um tempo para tudo. Tente criá-los longe do imediatismo que corrói os bons relacionamentos e o bom trabalho. Leve elas a conhecerem o seu local de trabalho e explique a importância do que faz.

Não importa se você é presidente de uma multinacional ou o lixeiro. Embora com valores diferentes de remuneração todo trabalho tem igual grau de importância. Tenha consciência disso e passe isso aos seus filhos e aos jovens. Tenha orgulho do que faz e seja grato. Ensine seus filhos a serem gratos.

Em seus momentos de lazer toque um violão, leia uma poesia, conte uma história engraçada, invente uma história, façam alguma coisa juntos com suas próprias mãos, plante um pé de alguma coisa e ensine seus filhos a cuidarem dele. O que ficará na memória de seus filhos será a qualidade dos momentos passados juntos e não a quantidade.

Que você seja o melhor exemplo para seus filhos, que em suas memórias fiquem lembranças de momentos de carinho e cumplicidade e que eles se tornem pessoas úteis, felizes e cheios de gratidão!

*Lucilene Antunes é Micro empresária no ramo comércio varejista de roupas e calçados Formada em Administração de Empresas com Pós Graduação em RH. Este artigo foi publicado anteriormente no portal da Revista Atitude Empreendedora.