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O efervescente mercado dos semáforos

Posted: 24 de abril de 2008 às 8:06 pm   /   by   /   comments (0)

Por Alessandro Saade*

Outro dia, parado no semáforo (ou farol, sinal, sinaleira, dependendo da região do país), me dei conta de como esses empreendedores que vendem de tudo em 30 segundos são ágeis em responder às demandas e reverter os temores dos seus “prospects” e consumidores. E se analisarmos com maior profundidade, concluiremos que eles são mais criativos e organizados que muita empresa formal há tempos em atividade.

Não quero entrar no mérito da legalidade, do mercado informal, do peso social ou outro juízo de valor. Meu objetivo é mostrar como, sem percebermos, este segmento se transforma para nos atender cada vez melhor.

No início da década de 1990, os semáforos eram povoados de pedintes que, com expressão triste, tentavam rapidamente nos convencer de suas mazelas para receberem alguns trocados. Era uma comunicação verbal, direta, pela janela aberta do carro, baseada na culpa ou pena.

Logo depois, essa abordagem migrou para a solidariedade. Foi a época de fazer parte, ajudar um pouco, estar com a consciência tranqüila por ter feito o mínimo. Então, eles povoaram as esquinas com faixas para completar o dinheiro do “tratamento do Joãozinho” ou “ajudar Maria a comprar a cadeira de rodas”. Esse movimento durou pouco, mas hoje Maria deve ter uma frota de cadeiras.

Quase que simultaneamente, começamos a ser abordados nas janelas por pequenos pedintes, que, nos chamando de “tios”, tentavam nos comover pedindo trocados ou vendendo balas e chicletes. Incomodavam tanto que vimos circular por São Paulo veículos com adesivos trazendo a frase: “Não sou seu tio, não quero balas nem tenho trocados”. Uma resposta fria e insensível ao problema social, mas que expressava com maestria o humor e a esgotada paciência do paulistano.

Veio a violência no trânsito e os vidros das janelas se fecharam. Desta forma, o mercado alterou sua rota. Passou a pedir menos e a oferecer mais. Daí surgiu a brilhante idéia de colocar as balas num saquinho, com uma mensagem e o preço. Oferta de oportunidade, conveniência e de massa. Em vez de passar 30 segundos tentando convencer um único motorista, conseguiam pendurar até 20 saquinhos nos retrovisores. E quem quisesse efetuar a compra, bastava abrir o vidro. Genial.

Mas como “tudo que é bom dura pouco sozinho”, logo vieram as cópias e os concorrentes. O excesso de oferta fez o mercado migrar de conveniência para entretenimento. Estamos no início do século 21 e testemunhamos o surgimento dos malabaristas e ilusionistas. Não são aqueles que fazem desaparecer a sua carteira ou seu relógio, mas os que brincam com bolas, lenços, varetas, facas e até malabares com fogo. É o Cirque du Soleil na sua esquina. E bem mais barato, diga-se de passagem.

Paralelamente a esse movimento, também presenciamos a mudança no mix de produtos oferecidos por outros habitantes das esquinas. E aqui falamos verdadeiras corporações, com estrutura logística para mudar os produtos em pouquíssimo tempo, caso necessário. É o caso dos guarda-chuvas que surgem em diversos tamanhos e modelos, assim que se inicia uma chuva inesperada, por exemplo.

Somos obrigados a admitir que essas corporações das esquinas possuem um calendário estruturado. Oferecem produtos ligados a datas comemorativas, como carnaval, dia dos namorados, dia das crianças e Natal. É o senso de oportunidade, com a oferta de frutas de estação ou típicas de final de ano, decoração de natal, fantasias ou presentes para os pequenos. Isso pressupõe um calendário de compras antecipadas e uma perfeita sintonia com as tendências do mercado.

Por outro lado, também possuem apurado senso de conveniência, oferecendo água e refrigerantes gelados nos dias de calor e chocolates ou gorros nos dias mais frios. Rápidos e eficazes como poucas empresas são capazes de se movimentar.

Não estou defendendo a ação dos ambulantes. Porém, é evidente que, com a utilização de uma brilhante estratégia, eles fazem parte de uma organização bem estruturada e com implementação feita através de tarefas claramente definidas e cumpridas à risca. Já pensou essa orquestra tocando na sua empresa? Convenhamos que não seria nada mal.

* Alessandro Saade é consultor Internacional, professor e diretor da MERCATUS – Educação em Negócios