Newsletter subscribe



Artigos

Postura profissional

Posted: 21 de outubro de 2008 às 8:35 pm   /   by   /   comments (0)

*Por Hélio Terra

Há algum tempo li uma entrevista de Paulo Autran e Fernanda Montenegro, dois conceituados atores brasileiros, na qual eles garantem que, mesmo após anos de experiência atuando em teatro, ainda sentem “aquele friozinho na barriga” todas as vezes que sobem ao palco. Ambos concordam que cada apresentação é capaz de fazê-los reviver as emoções do primeiro dia de trabalho. Sorte a deles!

Se todos os profissionais que estão seguros de que “sabem tudo” deixassem sentir esse frio na barriga e se permitissem confessar que isso é sinal de aprendizado e que aprender sempre é fundamental, muitas carreiras seriam salvas.

O profissional que acredita já saber tudo acaba se fechando para conhecer coisas novas e muitas vezes se torna arrogante e desatualizado. No chamado mundo corporativo, ninguém é insubstituível; portanto, dar o melhor de si e buscar sempre mais para crescer na carreira é o mínimo que todo profissional deve fazer.

Temos exemplos claros na história de nosso país de pessoas ou até mesmo equipes que fracassaram por confiar demais na experiência adquirida na profissão e deixarem de fazer seus trabalhos com o mesmo empenho que faziam no começo da carreira. Gente que achou que era impossível errar e depois teve de aprender com os erros.

Na partida da seleção de vôlei brasileira com a Venezuela nos Jogos Panamericanos, por exemplo, foi possível enxergar um exemplo claro disso. A seleção brasileira entrou na quadra extremamente confiante de que o jogo estava ganho e não deu o melhor de si, talvez por acreditar que a equipe venezuelana, considerada fraca, não demandasse tanto esforço. Resultado: no primeiro set, houve momentos em que o Brasil perdia por quatro pontos de diferença.

Após alguns conselhos de Bernardinho, o técnico do time, a seleção finalmente se acertou e acabou vencendo a equipe adversária. Nesse caso, houve tempo de reverter a situação e acordar para a realidade dos fatos. A mudança de postura dos jogadores brasileiros e também as dificuldades do time venezuelano ajudaram a seleção a garantir o ouro e brilhar.

Há situações, no entanto, em que a arrogância deixa os profissionais cegos e faz com que eles percam oportunidades brilhantes. Na Copa da Alemanha, em 2006, o Brasil era o favorito. Todo mundo queria ver Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Robinho e outros craques brasileiros jogarem. A seleção deixou a desejar e não chegou nem ao menos à final do mundial. Recentemente, Ricardo Teixeira, Presidente da CBF, afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que muitos jogadores se apresentavam nas concentrações mostrando ter abusado de bebidas alcoólicas ao voltarem do período de folga.

A questão é: onde estava o comprometimento desses atletas? Onde estava a postura profissional? O “estrelismo” subiu à cabeça e fez com que craques admirados pelo mundo inteiro entristecessem sua pátria e causassem revolta em muita gente. Nesse caso, não teve como voltar atrás, e quando o time finalmente acordou já tinha perdido a Copa.

Vale mencionar profissionais que fazem a diferença por sua garra e determinação e que, apesar de não terem alcançado a vitória, deram o melhor de si até o final. É o caso da ginasta Daiane dos Santos, que, mesmo machucada e praticamente fora da competição, surpreendeu todos anunciando que iria competir e fez uma excelente apresentação. Ela mostrou a que veio e foi aplaudida e aclamada pela platéia, que reconheceu o esforço feito por ela para estar ali e representar o País. Daiane teve uma lesão no tornozelo e acabou deixando as competições dias depois, por ordem médica, mas sua atitude, sua postura, seu entusiasmo e seu empenho só fizeram com que ela fosse ainda mais admirada pelos brasileiros.

A postura do profissional é um fator decisivo em sua carreira. Se ele tiver atitude e souber entender a importância de fazer o melhor trabalho e dar cada vez mais o melhor de si, sem se acomodar com o que já conquistou, só terá a ganhar.

O friozinho na barriga não deve ser encarado como medo, covardia ou insegurança, mas sim como impulso para aprender com entusiasmo e se superar cada vez mais.

* Hélio Rangel Terra, formado em Ciências Contábeis com pós-graduação em Harvard, é Presidente da Ricardo Xavier Recursos Humanos. Mais informações no site www.ricardoxavier.com.br