Newsletter subscribe



Artigos

Quando dizer “eu não sei”

Posted: 28 de maio de 2014 às 8:21 am   /   by   /   comments (0)

 

Luiz Marins*

Tenho participado de rodinhas as mais incríveis em que os assuntos são dogmaticamente colocados com a firmeza, segurança e tom diretamente proporcionais à ignorância dos participantes.

Outro dia tive que ouvir calado um advogado discorrer sobre “antropologia dos primitivos” (sic) e dizer tantas patacoadas quanto sua frenética boca era capaz de produzir, uma vez que não posso admitir que aquele amontoado de impropriedades possa ter vindo de alguma inteligência.

E o mais interessante é que essas pessoas ainda concluem as suas doutrinações com a frase: “Sei tudo isso porque leio muito. Leio 4 livros por semana…”

O que tem de gente que lê 4 livros por semana em nossa terra, não é brincadeira! E não são aposentados, nem pensionistas do INPS. São homens e mulheres da lide. E quando pergunto como conseguem e a que horas lêem tanto, respondem que lêem à noite, pois odeiam novelas.

E é por tudo isso que as conversas e as reuniões sociais em nossa terra são tão chatas. Todo mundo fala, e sempre dogmaticamente e sempre emocionalmente, das coisas de que não entendem e que, de fato, não tem nenhuma obrigação de entender. Quem entende do assunto em pauta, desiste de falar, concorda “democraticamente” (sic) com a troupe ignara e o assunto acaba, murcha, e todos saem mais burros do que quando começaram. E como seria bom, se pudéssemos ouvir o comerciante falar do seu comércio, o advogado de suas causas, o médico de sua ciência, o artista de sua arte, perguntando, discutindo, crescendo, aprendendo, fazendo ilações, criando analogias e buscando intercomplementariedades.

A maior virtude do homem é saber dizer “EU NÃO SEI” ou “EU NÃO ENTENDI” e perguntar e querer saber. Convivemos há anos com uma pessoa e não sabemos sequer o que ela faz, como faz, porque faz. Julgamos, pré-julgamos, opinamos, sem saber, sem conhecer, sem sequer perguntar.

Parece que temos uma terrível vergonha de não saber de tudo, de não entender de tudo, de não ser doutor em tudo. E aí caímos no ridículo de doutrinar unicamente pela intuição.

E não me julguem os leitores um néo-positivista que acha que uma pessoa não deve sequer pensar sobre aquilo de que não entende. Pelo contrário, sou adepto do discutir, do perguntar, do debater, do rebater, do perquirir, do cismar, para que então, passemos a compreender melhor aquele determinado assunto. Porém, não vamos nos confundir. Não é simplesmente pelo fato de ter conhecido um pouco mais de determinado tema que posso pontificar sobre ele em outros grupos. Essa “cultura de almanaque” e Você Sabia?” não leva ao conhecimento do espírito crítico, tão necessário em nossos dias e para nossas relações sociais.

Talvez a nossa avidez em discutir futebol (também sem entender) nos tenha levado a pensar que todos os assuntos possam ser debatidos com a mesma insensatez que o ludopédio. Ouvi um dia, um emérito professor de Direito Constitucional desesperar-se com as impropriedades que vêm sendo ditas sobre a “Carta Magna” nestes tempos em que milhões de semi-disléticos passaram a sentenciar sobre o tema (sic).

*Luiz Marins é autor de diversos livros, Palestrante, Consultor, comentarista empresarial e de negócios em programas das Redes Globo, Bandeirantes e Rede Vida, Presidente da Anthropos Consulting e da Anthropos Motivation&Success, empresas pioneiras na utilização da antropologia no estudo e desenvolvimento empresarial. Conheça mais sobre o Prof.Marins em www.anthropos.com.br