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Quando nossa vida fica controlada por likes

Posted: 27 de fevereiro de 2019 às 6:00 am   /   by   /   comments (0)

Isabel Prandina Baptista*

O uso das redes sociais é uma realidade presente e faz parte do nosso cotidiano. A tecnologia avançou muito nos últimos anos.

Há algum tempo, e não faz tanto tempo assim, as pessoas para se conectarem ao mundo virtual ficavam sentadas em frente a um computador ou um notebook e dependiam de uma conexão lenta. Celular com internet era algo para poucos. Essas pequenas dificuldades acabavam por liberar o tempo das pessoas para se conectarem com outras coisas da vida. Não havia uma exigência dessa interação virtual 24 horas por dia. Aceitava-se a ausência, ela fazia parte da vida. Quando mandávamos um e-mail, não tínhamos o controle do dia, do horário, se a pessoa estava conectada naquele exato momento. A expectativa do retorno tinha lá seu grau de ansiedade, mas a cobrança no imediato da resposta era menor.

Hoje, com os smartphones, não existe horário, não existe local, não existe um momento. Em pé, num ônibus lotado e segurando uma sacola é possível interagir digitando freneticamente e recheando a conversa com emojis.

Nessa interação desenfreada, é crescente o número de pessoas que sentem cada vez mais necessidade da autopromoção nas redes sociais.

Essa superexposição pode ser de aspectos privados da vida ou da criação de um universo fantasioso propagando uma falsa imagem de si, um faz-de-conta da vida. Ninguém quer ser desinteressante nas redes sociais. Assim, a tendência é a super-valorização da realidade.

Em alguns aspectos, as redes sociais acabam cumprindo um papel de “ilha da fantasia” em que o feijão com arroz da vida diária é substituído pelo glamour de instantes mágicos de fama. Como o retorno de curtidas e comentários é quase que instantâneo, alimenta-se o ego e somos celebridades por alguns minutos dentro de um universo bolha. Algum problema nisso? Bem, sem falsos moralismos, o problema não é a questão das redes sociais em si, mas a forma com que o indivíduo se relaciona com elas.

É necessária uma visão crítica e o estabelecimento de um limite entre o que é fantasia e o que é realidade. Em outras palavras, essa superexposição pode ser um sintoma de que algo não vai bem.

Muitas vezes, existe a compensação virtual para aspectos que não estão bem na vida da pessoa. Ao se expor sem criticidade, essa postura pode indicar que existe um descompasso entre o que é real e o que é criado como verdade. A pessoa começa a acreditar na sua criação. Ao receber um like ou um comentário, ela passa a incorporar o falso como algo verdadeiro porque isso a faz se sentir importante, valorizada e amada.

O mais grave é quando o indivíduo perde o controle do processo e a vontade de se expor passa a ser um vício determinando suas escolhas, seu modo de ser e de viver.

Tudo isso pode trazer um grande vazio existencial e desencadear processos depressivos. O importante é refletir sobre isso. As redes sociais não são bruxas e nem fadas. O segredo é saber encontrar o equilíbrio no uso delas e procurar ajuda se algo não vai bem.

*Isabel Prandina Baptista é Pedagoga e Psicopedagoga da Equipe Terapêutica. Contatos: belprandina@gmail.com