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Quanto você paga para trabalhar?

Posted: 20 de outubro de 2017 às 6:00 am   /   by   /   comments (0)

Nelson Fukuyama*

Se você quiser ter uma conversa interessante e sem fim com uma pessoa qualquer que seja a sua área de atuação faça a pergunta “e aí, como vai o seu trabalho? ou “como vai a sua empresa e como vão os seus negócios”?

Se a pessoa com a qual você estiver falando for um motorista de táxi, por exemplo, vai ouvir dele que a situação está complicada, porque o trânsito anda muito confuso, porque é uma época de chuva e as ruas alagadas, porque tem muito carro na rua que provoca grandes congestionamentos, porque as pessoas não saem de casa, porque parece que as pessoas não têm dinheiro para gastar com táxi, porque o governo faz ou não faz isso ou aquilo…conclusão, você anda um pouquinho, tem que gastar muito tempo com um passageiro, gasta combustível, ganha pouco, tem que pagar a prestação ou a diária do carro, e daí se chega à conclusão que “acaba pagando para trabalhar”.

Se você fizer mesma pergunta para um funcionário de uma empresa, ele poderá dizer que tem que para trabalhar ele tem que gastar muito tempo para se deslocar tantos quilômetros, gastando combustível com seu carro ou pagando o transporte coletivo, muitas vezes tendo que deixar o seu veículo em um estacionamento durante o período de expediente de trabalho, tem que gastar com refeição, com roupas, com sua aparência física, especialmente as mulheres…e quando recebe o seu salário no final do mês, tem que pagar isso e mais aquilo, e manter a sua família ou a si mesmo…ou seja, não sobra nada, ou melhor, “está pagando para trabalhar”.

A conversa parece que fica pior quando a pergunta para uma pessoa que tem seu próprio negócio, sua própria empresa. Um dia desses, por exemplo, eu estava conversando com um vizinho que tem uma empresa de comércio exterior e fiz a pergunta básica “e como vão os negócios?”. “Estou pagando para trabalhar” me disse ele. E continuou dizendo que está muito complicado tocar a empresa e fazer negócios atualmente porque quem costumava comprar está retraído, que costumava pagar em dia está atrasando os pagamentos, e tem empresa que só faz cotação sem fechar negócios. Mas, os custos fixos continuam. Sobra para ele o pagamento da estrutura do seu negócio. Ganham, ainda que em menor escala, os seus “sócios”, que são aqueles que participam do seu empreendimento de maneira direta, ou seja, o governo, através dos impostos, os fornecedores de produto ou serviços, os bancos que cobram os seus encargos sobre tudo e os seus funcionários.

Eu tenho para mim que essa situação de “ter que pagar para trabalhar” vem de muito tempo, ou seja, não acontece somente nos dias atuais por um motivo ou por outro. Talvez, como dizia um conhecido, isso tudo aconteça porque “a gente não saiba fazer contas”. Se a gente pensar bem porque ganhamos um salário que não é suficiente para pagar as nossas contas, temos que pensar em reduzir as despesas ou encontrar um outro emprego que seja compensador. Um dia desses ouvi num noticiário em que o apresentador falava de um amigo que mora em um bairro da zona leste de São Paulo e trabalha em Embu das Artes e demora duas horas e meia para chegar ao trabalho. E na volta ele deve demorar, no mínimo, o mesmo tempo. Isso tudo se não estiver chovendo na cidade. Para mim, essa pessoa deve ter muitas razões para se deslocar tanto para trabalhar.

Por outro lado, se mantemos uma empresa que não fatura o suficiente para bancar todas as despesas e não aquelas com os “sócios diretos”, certamente deve haver alguma forma de mudar essa situação, seja reestudando os valores cobrados por produtos ou serviços, seja reduzindo custos e despesas. Alguém deve pensar nisso, e talvez não seja sua responsabilidade. Mas vale a pena ajudar a dar pitacos.

Depois de tudo o que escrevi acima, fica a pergunta para você: e aí, quanto você paga para trabalhar?

*Nelson Fukuyama é Co-Fundador, Gestor e Colunista do portal Dicas Profissionais, Diretor e Administrador da Yama Educacional e Colunista dos portais Carreira&Sucesso, da Catho e Administradores.com para os quais fala sobre comportamento no ambiente de trabalho, com base em sua trajetória profissional ascendente, de trainee de consultoria externa a diretor de empresas nacionais e multinacionais.