Newsletter subscribe



Artigos

Ritos de passagem

Posted: 20 de agosto de 2014 às 8:21 am   /   by   /   comments (0)

 

Edson Carli*

Chegando de volta após uma série de visitas à clientes dos países da América Latina tenho alguns pontos muito interessantes para compartilhar com vocês, meus amigos e leitores. A primeira é que pela primeira vez em tantas décadas de serviço de consultoria, me senti como os gringos que visitavam nosso país na década de oitenta. Acredite ou não, o Brasil está na moda no mundo da tecnologia. Em várias empresas por onde passei era lugar comum encontrar profissionais reunidos antes e depois do expediente para ter aulas de português.

Nossas práticas, nosso modelo de gestão e até nossa cultura, começam a ser reconhecidos e admirados muito além da trilogia carnaval, futebol e caipirinha. As multinacionais brasileiras começam a atrair o interesse dos jovens talentos nas universidades e São Paulo passa a ser um destino natural para estudar a língua e fazer intercambio. Confesso que fiquei lisonjeado, mas também preocupado, pois assim como os países do até então primeiro mundo, passaremos a enfrentar a concorrência de mão de obra imigrante em pouco mas muito pouco tempo mesmo.

Os jovens que buscam oportunidades profissionais no mercado de tecnologia brasileiro, tem boa formação, um terceiro idioma que vai além do técnico mas o grande diferencial que percebi ao conversar com estes jovens foi algo que pouco a pouco deixei de perceber em nossos próprios jovens: A vontade de construir uma carreira considerando as idas e vindas deste mercado.

Curiosamente, nas primeiras reuniões que tive no Brasil o tema retenção no mercado de TI foi muito debatido sendo que existe um momento na carreira em que a ocorrência de “debandadas” é mais forte: Na passagem do pleno para sênior. Assim como num rito de passagem, os seniores de primeira leva aparentemente não estão satisfeitos com a equação responsabilidade, ganho e visibilidade.

Estudando um pouco mais este momento da carreira, identifiquei cinco pontos que podem ser a causa deste fenômeno:

Responsabilidade: Com a chegada ao nível sênior, o profissional recebe sua primeira equipe e passa a responder por suas ações e também pelas ações deste pequeno grupo;

Ganho: As atribuições são muito próximas de um coordenador, mas evidentemente, o ganho ainda é significativamente menor. Esta é uma fase de investimento do indivíduo;

Exposição: O mercado em geral não distingue sênior de primeiro ano com sênior de quinto ano. Todos são exigidos da mesma forma;

Aprendizado: Além de continuar aprendendo continuamente, o sênior também passa a ser responsável por ensinar.

Ansiedade: Este é um período de confirmação das competências e tende a durar de dois a quatro anos até a esperada promoção para gerência, tempo considerado grande por muitos.

Entendo que este rito de passagem faça parte da formação dos grandes executivos de nossa área e que a boa competição em breve trará normalidade aos processos de maturação. Por enquanto, o negócio é monitorar e aguardar.

*Edson Carli, Coach e Consultor de carreiras – www.edsoncarli.com.br.