Newsletter subscribe



Artigos

Será que vale a pena trocar tanto de emprego?

Posted: 9 de setembro de 0201 às 9:24 pm   /   by   /   comments (0)

 

ABRH-SP*

“Uma pessoa que está tendo uma carreira brilhante e ascendente numa empresanão vai concordar com o conceito de que mudar de emprego toda hora é amelhor forma de progredir profissionalmente” -Felipe Westin, presidente do Conselho Deliberativo da ABRH-SP

 

Hoje li um artigo que tratava desse assunto. Um profissional da área de Psicologia comentava que o fato de uma pessoa trocar muitas vezes de emprego acabava sendo malvisto pela empresa eventualmente interessada em contratá-la. Comentava o exemplo de uma pessoa que, em 10 anos de carreira, havia trocado oito vezes de emprego.

A alegação de ser malvisto tem como fundamento a demonstração de falta de compromisso e engajamento com a organização. Citava também que alguns profissionais já estavam tendo problemas para encontrar um novo emprego, à medida que apresentavam um currículo com muitas mudanças de empresa.

Tal instabilidade apresentada por alguns desperta preocupação nas empresas na hora de contratar, pois não sabem se aquele profissional irá ficar por algum tempo, contribuindo, entendendo o negócio, etc.

Logo após esse artigo, havia várias manifestações de pessoas alegando que o mesmo era pura “manipulação” e só representava os interesses das empresas. Outros diziam que a geração Y é assim mesmo, eles não querem esperar para crescer, são mais imediatistas. Outros criticavam os RHs que só representavam os interesses das empresas e eram muito mal preparados, e por aí afora. Não vi nenhuma manifestação positiva defendendo o que o artigo comentava a respeito da instabilidade nos dias de hoje com relação ao emprego.

Quem será que tem razão? O artigo que, ao meu entender, tentava alertar as pessoas para o fato de que mudar tanto de emprego pode ser prejudicial na busca de uma nova oportunidade ou as pessoas que acreditam que a única forma de progredir profissionalmente e financeiramente é trocar de emprego com frequência?

Quando comecei a trabalhar, meu chefe sinalizava que, se eu não fizesse nenhuma bobagem e tivesse um bom desempenho, teria uma carreira longa na empresa. Em outras palavras, a companhia cuidaria da minha carreira, claro, desde que eu demonstrasse competência, lealdade e bom desempenho.

Havia também uma teoria que defendia que as pessoas precisavam ficar no mínimo três anos numa determinada função para terem tempo de aprender com os acertos e erros que cometiam. Esses três anos eram considerados o ciclo necessário de aprendizagem. Se alguém saísse antes disso, perderia parte desse ciclo e, por consequência, parte do seu aprendizado.

Como na vida sempre há o movimento pendular, hoje vivemos o oposto daquela época. Não é mais necessário ter um ciclo tão longo, se é que três anos podem ser considerados longos, e ficar na mesma função mais do que um a dois anos é perder tempo e regredir profissionalmente. Foi criado um novo paradigma: ficar na mesma empresa por algum tempo é prejudicial à carreira. Mostra que a pessoa está estagnada ou é incompetente.

Sou cético quanto ao “efeito manada” criado pela sociedade nos mais diversos campos da nossa vida. Esta tem sido a maior dificuldade para os economistas entenderem certos movimentos econômicos, que são mais de ordem psicológica do que lógica ou racional. Em gestão de pessoas isso também tem de ser avaliado cuidadosamente. Nem sempre esses conceitos propalados por muita gente são verdadeiros e podem ser muito falaciosos. Todo cuidado é pouco.

Uma pessoa que está tendo uma carreira brilhante e ascendente numa empresa não vai concordar com o conceito de que mudar de emprego toda hora é a melhor forma de progredir profissionalmente. É certo que o mundo mudou, as coisas são mais velozes, mas temos de tomar cuidado para não confundir velocidade com pressa nem tão pouco “modernidade” com “eternidade”. Existem tecnologias que nos dão muita velocidade e produtividade nos dias de hoje, mas não podemos confundir isso com os valores, comportamentos e aprendizados que são permanentes e fazem parte do nosso mundo civilizatório.

As pessoas buscam, sim, crescimento contínuo nas suas carreiras, desenvolvimento profissional e pessoal, o que é muito salutar, mas as empresas também querem profissionais que tenham compromisso em ajudá-las nos seus desafios de negócios. Quando há este alinhamento certamente haverá de ser um processo de ganha-ganha para os dois lados, e quem ganha é a sociedade como um todo. Pessoas bem preparadas e empresas bem-sucedidas…

É o que todos desejamos.

*ABRH – Artigo publicado no Estado de São Paulo, Caderno de Empregos, Jornal de Recursos Humanos • Ano 26 • Nº 1488 • São Paulo, 09 de setembro de 2012

** Do Editor