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De quem foi a falha no caso do Banco Panamericano?

Posted: 23 de novembro de 2010 às 7:41 pm   /   by   /   comments (0)

 Por Nelson Fukuyama*

O problema recentemente descoberto e revelado nas operações do Banco Panamericano acabou colocando uma faca no pescoço de um monte de gente, incluindo os Diretores do próprio Banco, da Alta Direção do Grupo Controlador Silvio Santos, do Banco Central, da Auditoria Externa, estendendo-se também ao pessoal envolvido na operação de aquisição de participação societária feita anteriormente pela Caixa Econômica, que contou com os trabalhos de diligência realizados pelas assessorias da Auditoria Externa e do Banco Fator.
É certo que o assunto vai ser ainda alvo de muitos comentários e reuniões para se encontrar o real culpado. Até o Conselho Federal de Contabilidade já criou um grupo de trabalho para apurar se houve realmente um erro dos profissionais de contabilidade envolvidos.
Desde o primeiro momento em que li a notícia do caso lembrei de quando estive envolvido na área de auditoria, tanto de operações de crédito ou outro tipo, quanto de auditoria de demonstrações financeiras. Vi casos de empresas onde foram constatados casos idênticos como Enron, Bernard Madoff, Banco Nacional, Banco Bamerindus, Banco Econômico.
Mas, uma empresa, no caso, o Banco, pode errar? Não deveria porque ela deve manter um padrão de conduta ética na realização e controle de seus negócios. Mas, há casos em que uma empresa adota deliberadamente um determinado procedimento ao realizar suas operações comerciais e dá instruções às áreas envolvidas para que isso fique refletido no seu sistema de controle, por exemplo, no registro contábil, e para que conste das demonstrações contábeis. Nem adiante questionar o pessoal de nível hierárquico inferior pois a ele cabe cumprir ou não a “orientação”.
Os órgãos controladores como Auditoria e Banco Central podem errar? Os órgãos de controle não podem querer exercer o papel de detetives, de investigadores de procedimentos. Eles desenvolvem seus trabalhos com base nas informações e demonstrações preparadas por uma empresa, é bom lembrar que em empresas com melhor estrutura essas informações são avaliadas por seus Comitês Internos.
No caso específico de uma Auditoria Externa, o que ela faz é assegurar e testar as informações recebidas da administração da empresa auditada para ver ser elas são confiáveis e comprovar que os procedimentos adotados para a elaboração de uma demonstração financeira bem como os valores nela apresentados refletem a posição financeira da empresa.  Quem lê com atenção os pareceres de auditoria verá que eles incluem uma declaração de que os trabalhos foram executados com base nas informações prestadas pela alta direção da empresa auditada.
O problema é que no caso do Panamericano o rombo provocado pelo erro foi de RS$ 2,5 bilhões! O que pode ter acontecido então?
Eu acredito que todos os envolvidos, desde empresas a profissionais, envolvidas sejam idôneas o bastante para errar nisso. Pode ter havido por excesso de confiança nas informações recebidas. Pode ser que não se deu a devida atenção a operação levando em conta a quantidade de pequenos valores envolvidos, pode ser que o volume de teste de validação de operações não tenham sido extensos o suficiente para detectar qualquer desvio de procedimento. Uma coisa é certa entre os profissionais de controle: quando se adota algumas práticas para mascarar uma situação ou alguns números (como no caso da “contabilidade criativa”)e quando há conluio entre os profissionais de diferentes áreas, fica mais difícil se detectar o problema, em qualquer lugar. É como numa denuncia anônima que você só descobre se alguém denunciar.
O fato é que até se chegar a uma conclusão sobre quem causou o problema ainda vamos ter muitas argumentações e desculpas. Maior dor de cabeça para todos os envolvidos no processo que pode levar um grande empreendedor como o Silvio Santos a dispor de todo resultado de um trabalho acumulado ao longo de várias décadas.
* Nelson Fukuyama é Editor-Chefe do Dicas Profissionais e Diretor da Yama Educacional. Deus sempre abençoou sua carreira profissional como Consultor, Controller, Superintendente e Diretor de Finanças e Administração de diversas instituições de renome internacional.