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Gestão da carreira: sofrimento ou treinamento?

Posted: 29 de abril de 2015 às 7:33 am   /   by   /   comments (0)

Adolfo Plínio Pereira*

Depois de ouvir o mesmo discurso de mais de uma pessoa, e dar os mesmos conselhos, resolvi escrever este artigo visando compartilhar uma visão que tenho sobre determinados acontecimentos na carreira nem sempre percebidos pelos profissionais. Em especial, pelos jovens que estão iniciando suas histórias dentro do mundo do trabalho.

Sabe-se que há um número considerável de empresas nas quais é muito difícil trabalhar. Chefes difíceis, rotinas estressantes, salários e benefícios desmotivadores e injustos. São várias as reclamações que ouço e o fim da história costuma ser: um pedido de desligamento precoce, ou uma demissão cheia de conflitos, às vezes seguida de ação judicial contra a empresa contratante, ou, em alguns casos, a permanência do funcionário na empresa, mas, totalmente descontente com o que está vivenciando.

Cada caso é um caso e até mesmo a ação trabalhista contra o empregador pode ser necessárias, mas, quando se trata de gestão da carreira, é preciso considerar alguns pontos:

– Há motivos verdadeiros e reais que deem sentido ao seu sofrimento no trabalho? Essa é a primeira pergunta a ser respondida antes de se tomar uma decisão precipitada. Sentido nesse caso se equivale a bons motivos pelos quais valha a pena estar em determinado trabalho, por um determinado período, mesmo que não oferte boas condições. Um exemplo prático e bem comum é permanecer num trabalho estressante tendo em vista que o jovem trabalhador está concluindo seus estudos num curso superior. Esse exemplo clássico já determina o possível fim do sofrimento, ou seja, desliga-se da empresa logo após a conclusão dos estudos. Outro bom motivo é permanecer no emprego pelo tempo certo, até que se tenha acesso a uma promoção que se busca e que faz parte dos objetivos do profissional em questão. Esses são dois bons exemplos que dão sentido ao enfrentamento momentâneo do sofrimento no trabalho.

Mas, alguns motivos não se justificam. Cito aqui um clássico: “estou nesse trabalho porque preciso ganhar dinheiro para pagar minhas contas!”. Oras, é possível se ganhar dinheiro para pagar as contas em qualquer outro trabalho, inclusive, por conta própria. Então, esse não pode ser considerado um bom motivo, pois tem pouco sentido. Aliás, nos casos citados, se o aluno terminar o seu curso superior e continuar no seu trabalho, sofrendo; se o profissional não for promovido e permanecer por ali, também sofrendo; se o trabalhador continuar no emprego por causa do salário, da mesma forma, sofrendo; então, tais sofrimentos estariam sendo em vão, sem nenhum sentido, e sem impacto significativo nas carreiras desses atores.

– Será que é sofrimento mesmo ou é treinamento? Quando o profissional está certo do que quer, sabe claramente aonde quer chegar, então, o emprego atual, mesmo não sendo muito agradável e adequado, pode ser estratégico, importante e indispensável para seu crescimento profissional. Nesse caso, o que parece sofrimento pode ser um ótimo treinamento remunerado. Isso mesmo! A pessoa treina muito, diariamente, aprende atividades de extrema importância para sua profissão e ainda ganha algum dinheiro no final do mês e, se tiver sorte, ganha até algum benefício.

Imaginemos três situações, em três empresas que ofertem salários injustos, chefes autoritários e manipuladores, ausência de benefícios interessantes e, ao mesmo tempo, as atividades realizadas por jovens estudantes tenham tudo haver com a carreira que pretendem seguir. A) Auxiliar Administrativo no Setor Financeiro de uma pequena rede de hotéis, sendo que o jovem estudante queira seguir carreira como Gestor Financeiro, de preferência, numa rede de hotéis de grande porte; B) Vendedora em uma loja de varejo que assume as funções de gerente sem que seja remunerada para isso, mas que pretende preparar-se para montar o seu próprio negócio no ramo varejista de confecções e acessórios; C) Funcionária do escritório de uma empresa registrada na sua CTPS como assistente administrativo, mas, faz toda rotina de Departamento Pessoal e também exerce as funções de Analista de Recursos Humanos, sendo que objetiva ser gestora de RH futuramente. Oras, esses três exemplos demonstram que os sofrimentos pelos quais esses três trabalhadores estão passando por trabalharem em empresas equivocadas na sua relação patronal, são na verdade, ótimas oportunidades de treinamento, são degraus para a escada do sucesso de cada um.

Estudantes e profissionais contam-me histórias tristes de injustiças no trabalho e perguntam-me: “devo ou não acionar a minha contratante na Justiça do Trabalho?” Normalmente eu respondo: depende! E, nesse caso, o “depende” significa avaliar os reais prejuízos causados pelo empregador e também os possíveis ganhos nessa experiência. Se a vivência na empresa nada agregou na carreira e os prejuízos ao trabalhador, pela forma injusta com que foi tratado, são muitos, então, o melhor caminho possa ser uma discussão trabalhista judicial. Mas, se ocorreram ganhos em conhecimentos e experiências primordiais à carreira do profissional, e a empresa já está suficientemente penalizada por ter perdido um trabalhador de alto nível como certamente é profissional em questão, então, nesse caso, é melhor deixá-la em paz e seguir firme rumo ao sucesso profissional, até mesmo com sentimento de agradecimento pelo aprendizado adquirido.

É certo que nenhuma empresa deveria agir de forma equivocada com seus colaboradores, especialmente, quanto à postura dos líderes formais diante de seus colaboradores, e também com relação às questões básicas como salários justos e benefícios adequados, pois, os prejuízos são muitos, tanto ao trabalhador como à própria organização. Infelizmente, acionar a ex-empregadora judicialmente para reparar danos causados acaba sendo uma constante no mercado. Contudo, o trabalhador também precisa se responsabilizar pelas suas escolhas e pela gestão de sua carreira, sabendo aproveitar as oportunidades para treinar e se preparar para dar saltos mais altos e mais seguros ao longo do tempo.

Não se trata de uma postura passiva, de aceitação, ao contrário disso, é ser inteligente e estratégico. Mesmo porque, a empresa quando perde um colaborador que poderia continuar dando ótimos resultados, se prejudica e muito. Ela precisará investir tempo e dinheiro para conseguir outro trabalhador com o mesmo nível de interesse e talvez nem encontre.

Portanto, a contratante deve apoiar seus bons colaboradores em seus projetos de carreira e não ignorá-los. Um profissional que sabe gerir sua carreira com maestria e foco é valioso demais no mercado, e deve ser muito bem cuidado pelas organizações, antes que se desligue e vá realizar seus planos no concorrente.

*Adolfo Plínio Pereira – Autor do Livro: Liderança Humana e de Resultados, Administrador, Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida pelo UNIFAE, Pós-Graduado em Gestão Avançada de Pessoas pela PUC – Pontifícia Universidade Católica. Professor Universitário de graduação e pós-graduação, facilitador de treinamentos, palestrante e consultor empresarial. Este artigo foi publicado anteriormente no portal Atitude Empreendedora.