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Ir para o Tibet para meditar é uma boa?

Posted: 12 de novembro de 2009 às 1:14 pm   /   by   /   comments (0)

por Nelson Fukuyama*

Recentemente ouvi de um antigo colega de empresa que ele iria viajar, ficar um ano longe do Brasil e que passaria esse seu período sabático no Tibet, em meditação. Depois, segundo ele, voltaria totalmente energizado para dar continuidade ao seu trabalho aqui. Se ele foi, não fiquei sabendo, e se foi e voltou energizado para cá, também não fui informado.

Fiquei lembrando que teve uma época em minha vida que ouvia muita gente falando em ir para o Tibet que acabei ficando com vontade de ir também. Por um período de um ano deixaria todas as coisas mundanas de lado e me dedicaria totalmente à vida contemplativa no Tibet. Mais tarde, ao invés do Tibet, as pessoas passaram a desejar fazer o Caminho de Santiago de Compostela na Espanha. Com a mesma finalidade. Isso virou até mania.

Pensando nisto ultimamente comecei a me perguntar: Será que é preciso viajar tão longe e passar por momentos de privação como se espera de uma vida contemplativa para ficar curado para sempre do estresse da vida profissional? Afinal a gente sabe que esse estresse todo provocado pela vida profissional não tem cura. Há momentos de alternância, momentos calmos, quase parados, e momentos de extrema tensão.

Por curiosidade, fui consultar esse assunto de viagem para o Tibet para ver se encontrava algum conforto para mim, pelo fato de nunca ter ido lá. E encontrei um texto interessante, escrito por alguém que foi e parece que não gostou muito, de nada. Diz assim:

“Agora não devo mais permanecer no Tibet.

Eu e os tibetanos não entramos em acordo!

Eu estou partindo; estou indo para a Índia!

Eu, o rei e ministros tibetanos não entramos em acordo!

Eles não governam o reino de acordo com o Dharma.

Ao invés disso, os ministros controlam o rei do Dharma.

Estou cansado dos reis que se engajam em maus atos.

Eu estou partindo; estou indo para a Índia!

Eu e os monges tibetanos não entramos em acordo!

Eles não mantêm a disciplina pura,

Mas sim desfrutam, em segredo, de carne, vinho e mulheres.

Estou cansado de pessoas hipócritas.

Eu estou partindo; estou indo para a Índia!

Eu e os professores tibetanos não entramos em acordo!

Eles não explicam corretamente as palavras do Buddha e os tratados,

Mas sim enganam as pessoas com ensinamentos distorcidos.

Eu estou partindo; estou indo para a Índia!

Eu e os meditadores tibetanos não entramos em acordo!

Eles não misturam o estado de meditação com a pós-meditação,

Mas sim fazem do mero entendimento intelectual a sua experiência e realização.

Estou cansado dos praticantes que se fixam sobre a calma inerte.

Eu estou partindo; estou indo para a Índia!

Eu e os yogis tibetanos não entramos em acordo!

Eles não possuem o significado da Visão e da Meditação em sua prática do Dharma,

Mas sim enganam a si mesmos com chavões orgulhosos.

Estou cansado de pessoas jactantes.

Eu estou partindo; estou indo para a Índia!

As mulheres tibetanas e eu não entramos em acordo!

Elas não têm fé e compaixão em seu coração,

Mas sim seguem os charlatões com fé oca.

Estou cansados das mulheres sem fé e luxuriosas.

Eu estou partindo; estou indo para a Índia!

(Advice from the lotus born: a collection of Padmasambhava’s advice to the dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples. Introdução de S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, tradução de Erik Pema Kunzang e edição de Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe, 1994. Pág. 149-151)

Diante de tudo o que li e escrevi continuei na dúvida: e agora? Vale a pena mesmo ir para o Tibet?