Nossos dias…de pandemia e Política!

Michael Ataíde*

Já faz uns 60 dias que só se fala de duas coisas: Covid-19, com destaque para o seu avanço, a falta de recursos físicos e humanos, o número de mortes, a discussão (inútil) sobre a cloroquina, etc, etc, etc…e as disputas políticas que parecem visar a desestabilizar ainda mais o governo que, de tanto bombardeio, assemelha-se a um navio cuja tripulação está abandonando-o a cada dia.

O que dizer desse caos político-sanitário?

Falar da pandemia é repetir o que se vê da falta de entendimento entre os governantes, a começar pelo desmando, pois, de um lado, há os se desdobram em recomendar a adoção de determinados protocolos, enquanto do outro lado, muitos, incluindo o comandante maior, estimulam comportamentos contrários.

Mas, prefiro falar sobre a nossa Política e nossos representantes políticos e os seus reflexos na economia nacional.

Infelizmente, vivemos em um país onde a educação política não faz parte da formação escolar, acadêmica…Para começar, não se discute política em casa. E, para a maioria da sociedade, Política no Brasil está mais relacionada aos “personagens políticos” que militam em causa própria. A consequência disso é a epidemia da corrupção. A Política que se vê por aí, na maior parte, não é Política, mas sim o resultado da “politicagem” conduzida por “políticos” profissionais mal intencionados, que visam somente o seu bem estar.

Vamos aos casos práticos na nossa Política interna.

Tão logo o governo anunciou o direcionamento da montanha de dinheiro a ser despejada nos Estados e Municípios, destinada ao combate da pandemia, eu comentei com alguns amigos que não tardaria muito e as denúncias de superfaturamento e desvios começariam a aparecer. Pois bem, foi exatamente isso que aconteceu. E já vemos alguns governadores e prefeitos tendo que se explicar na justiça.

Ainda, no cenário interno, vemos uma política de apoio ao armamento da população. Um ministro da educação que dispensa maiores esforços pra descrevê-lo, uma política de saúde completamente desorganizada, um presidente que não governa mais, apenas se ocupa em se defender e defender os seus filhos nas redes sociais.

Falando agora sobre a Política no âmbito internacional.

Nosso país sempre foi internacionalmente conhecido com um país amigável, pacífico, com uma diplomacia multilateral, interdependente. Nossos diplomatas são reconhecidos e requisitados para mediar conflitos internacionais. Nossas negociações multilaterais são importantíssimas para o mercado e trazem riqueza e empregos para o Brasil.

No entanto, hoje o que vemos é um chanceler que parece não entender nada de política internacional, de diplomacia, de relações bi e multilaterais, o que torna a imagem internacional do Brasil a pior da nossa história. Nossas relações com a China estão abaladas, a negociação para a entrada na OCDE está paralisada, as negociações com a União Europeia não sairão enquanto mantiverem essa política hostil. Até o futuro do Mercosul agora é incerto.

Pior de tudo. Não é preciso muito esforço para entender que enquanto isso, outros vírus se alastram no Brasil atingindo a maior parcela da população. Ao mesmo tempo em que, por um lado, a pandemia se estende e atinge a população que está atônita sem saber o que fazer e esperar, e depende da falta de recursos da saúde, de outro lado, a paralisação da atividade econômica provoca o aumento do desemprego e consequentemente da dificuldade em conseguir sustento para as famílias, que fica sob o castigo do vírus da fome, da violência.

Finalizando, não quero ser arauto de más notícias. Desejo que essa minha reflexão sirva para lembrar sobre qual deve ser o real papel de nossos representantes políticos.

Lembrando que, apesar dos nossos dias escuros, a luz está logo ali e não tardaremos a vê-la novamente.

*Michael Ataide é Bacharel em Relações Internacionais e com pós-graduação como Especialista em Negócios pela FGV.