Artigos
Pizzas e decisões: tudo a ver
Eduardo Zugaib*
Você já passou por essa situação: em uma pizzaria, a única certeza que tem após pegar o cardápio é de que, para tornar a experiência mais saborosa, a melhor pedida é escolher dois sabores, apostando na popular “meia-isso, meia-aquilo”. Definida a primeira metade, logo vem o drama: a escolha da segunda. É nessa hora que, sem querer, revelamos muito ao nosso respeito e sobre a nossa postura diante dos dilemas da vida. Como? Normalmente, em cardápios de restaurantes que oferecem a combinação de meias porções, sempre há uma observação em letras miúdas, impressa ao rodapé das páginas: “Ao escolher dois sabores, o valor será cobrado pelo mais caro”. E o que normalmente fazemos?
A sensação de estar sendo enganado, de estar pagando a mais, trava por alguns instantes a decisão e nos joga numa estranha zona de conforto, nos fazendo buscar na segunda metade da pizza um sabor cujo valor seja próximo, ou igual, ao da primeira. “Ufa”, suspira o nosso ego quando identificamos, nas opções limitadas pela metade anterior, uma que nos agrade. Nos tornamos escravos da opção anterior, cegando o olhar para todas as outras possibilidades. Anulamos as chances de conhecer um novo sabor, mesmo que mais caro, porque ficamos presos à escolha feita há alguns minutos atrás.
Um momento tão simples como esse, que acontece milhares de vezes por dia, nas milhares de pizzarias que vemos por aí, acaba tornando-se exemplo da forma como costumamos decidir uma boa parte das nossas escolhas, sempre niveladas por uma crença já estabelecida (o preço da primeira metade), e não pelo real desejo que gostaríamos de satisfazer: todas as outras possibilidades que deixamos pra lá, decretando intimamente que, por estarem fora do padrão já estabelecido, elas “não eram para o nosso bico”.
Da pizza para a vida, como anda essa relação do merecimento em sua vida? O nivelamento tem ocorrido por cima, pela perspectiva de merecer e poder alcançar mais, ou tem sido por baixo, baseado na escolha anterior?
O medo de correr riscos, de enfrentar o novo existe e deve ser enfrentado. Se nivelarmos cada nova decisão apenas com lastro no passado, corremos o risco de nunca andar pra frente.
*Eduardo Zugaib www.eduardozugaib.com.br é Profissional de Comunicacão, Escritor e Palestrante em vendas, atendimento e comunicação.