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Transição de carreira em 2023

Posted: 11 de dezembro de 2022 às 9:59 am   /   by   /   comments (0)

Tulio Portella*

“Sair da zona de conforto” virou um mantra repetido como se os profissionais quisessem se abrigar dentro de uma caixinha onde nenhuma novidade acontece – e precisássemos convencê-los a sair. Não acredito, no entanto, que de fato eles queiram ficar lá. Passamos os últimos anos ouvindo que o mundo mudou rápido demais, mas devemos lembrar que quem nunca mudou tão rápido foram as pessoas. Gente como eu e você que, antes de ouvir sobre a importância de se arriscar em novos caminhos já dava novos rumos à carreira.

Quer um exemplo? A quantidade de brasileiros vivendo no exterior nunca foi tão alta. O número de profissionais qualificados que solicitam visto de trabalho nos EUA atingiu o maior patamar em uma década. Os pedidos desses documentos de grupos como pesquisadores, gerentes de multinacionais e pós-graduados, saltou 135% em 2020, comparado aos cinco anos anteriores. São pessoas que arriscaram mudar de país, idioma, cultura e abriram mão de certos sonhos para realizar outros. Fazer uma transição de carreira é estar aberto a esse tipo de troca.

Também é escolher. Em um mundo de inovação em que surgem novas profissões em tempo recorde, a mudança que um profissional quer –ou se sente forçado a fazer – pode levá-lo a deixar para trás paixões que jamais pensou em abandonar, sair de cadeiras que nunca passou por sua cabeça desocupar. Em determinada fase da vida, ele percebe que por algum motivo o rumo profissional que decidiu seguir não funciona mais. Essa constatação é capaz de gerar ansiedade, incerteza e a desconfiança de que jamais seremos felizes em uma nova área.

Esqueça. Pode soar poético, mas fazer uma transição de carreira é estar aberto a encontrar novas formas de ser feliz. É lembrar que o trabalho significa uma parte do que contribui para a felicidade. Se adequado à agenda, planilha e propósito, dá liberdade de ter mais tempo com os filhos, segurança financeira, equilibrar vida pessoal e profissional, cultivar a saúde mental. Por isso, não tenha medo de mudar. As pessoas não estão tendo.

Entre 2014 e 2020, no Rio de Janeiro, dados do Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) indicam um aumento de 60% no número de alunos que ingressaram na segunda graduação. Uma pesquisa do Linkedin este ano observou que metade dos profissionais no Brasil pretende mudar de área ou emprego. Dos que têm entre 16 e 24 anos, o percentual sobe para 61%.

Preciso contar um “segredo”: há 10 anos, eu era recém-formado em Biologia, queria me tornar cientista. A paixão pela natureza me aproximou do mar. Aos poucos, virei influenciador digital. Saía para remar e era reconhecido nas ruas do Rio de Janeiro por mais de cinco mil pessoas que acompanhavam minhas aventuras de caiaque no Youtube. O próximo passo seria o Mestrado, não foi. Os ventos mudaram e eu remei em outra direção.

Troquei as sandálias, a camiseta e a bermuda pelo terno e gravata do mundo dos negócios. As ondas do mar pelos altos e baixos do mercado financeiro. Nesse novo caminho, conheci colegas que em alguns anos se capacitaram, mudaram de área e aumentaram até dez vezes o salário. Outros que quase foram mandados embora, mas ao trocarem de função revelaram talentos e conquistaram novo futuro na empresa.

Se não der para realizar a transformação de uma vez, faça aos poucos. Experimente, tente quanto for necessário. Ou você acerta, ou você aprende. O que precisamos entender é que não fomos feitos para ficar na zona de conforto. Nosso estado natural é fora dela.

*Tulio Portella, diretor comercial da B&T Câmbio. Possui MBA em Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela – FGV e Pós Graduação em Gestão de Empresas Familiares – PUC-RIO.