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Treinamento contra crises

Posted: 7 de outubro de 2008 às 8:34 pm   /   by   /   comments (0)

*Por Hélio Terra

Continua o ziguezague das economias refletido principalmente pelas bolsas, tanto nos grandes centros financeiros quanto nos mais distantes recantos do planeta. Não se sabe exatamente como isso vai terminar,pois, a começar pelas tentativas dos Estados Unidos, a maior potência econômica, no sentido de salvar o mundo capitalista com 700 bilhões de dólares dados em socorro a bancos e empresas dos mais diversos setores, há também em curso um sem-número de ações de pequenos, médios e grandes empreendimentos que, sem dúvida, muito contribuirão para arrefecer a crise.

Vale dizer que no caso brasileiro, por exemplo, há milhares de empresas muito bem administradas cujos gestores, já tendo ouvido o galo cantar faz tempo – lembremo-nos da crise que se abateu sobre as economias asiáticas em 1997 com sérios reflexos no Brasil – tiveram o discernimento de antecipadamente tomar medidas para enfrentar o mar revolto que se prenunciava e que agora se mostra, de fato, tormentoso. Não era segredo para ninguém que o setor imobiliário americano vinha dando sinais de recessão e, de lá, poderiam vir estilhaços a colocar em risco outras áreas da economia, dentro e fora dos Estados Unidos, tamanho era o descontrole de contas de construtores, incorporadores, empresas hipotecárias e afins. E – por que não dizer? – do setor financeiro embalado por Wall Street.

Bem, como ressaltamos, os mais prevenidos estarão menos sujeitos aos dissabores da lentidão e fragilidade de mercados que se avizinham e que muitos já chamam de recessão. Entre medidas que certamente foram tomadas estão aquelas ligadas à qualificação da mão-de-obra. Historicamente, nota-se que não há empresa vencedora sem equipes coesas, motivadas e bem preparadas. As que se preparam, na bonança ou na tempestade, multiplicam por mil as oportunidades de vencer. Esse raciocínio pode parecer um tanto quanto simplista, mas não é. Convém ressaltar que, ao contrário do que muitos pensam, não é o capital financeiro que rege as empresas. É o capital humano.

Assim, em momentos de turbulência, há que distinguir bem as duas coisas. Pessoas é que são capazes de transformar insumos físicos, matérias-primas e também recursos financeiros equivalentes em bens duráveis, de utilidade social, e não o contrário. Vale dizer, ainda, que não são quaisquer pessoas as capazes de realizar. São, sim, aquelas que foram preparadas, treinadas para enfrentar turbulências em diversas instâncias.

Nota-se que hoje, dadas as linhas de contorno do cenário internacional, o que mais se fala é da necessidade de impor ao setor financeiro novas regras em que pode prevalecer até a privatização de bancos e empresas de financiamento e similares. Essa seria a fórmula de retirar da economia grande parte do exacerbado apetite especulativo que tem caracterizado as economias ditas modernas. Em outras palavras, é a formula que permitiria deixar o liberalismo muito menos liberal e, portanto, menos sujeito a influências malévolas das apostas. Como já registramos, não se sabe onde isso vai dar, mas é certo que nas empresas onde se fez a lição de casa com esmero – sobretudo treinando as equipes – o combate à recessão não será tão árduo quanto naquelas em que se negligenciou o óbvio.

Agora, mais do que nunca, serão postas em evidência qualidades e defeitos das empresas. Entre as qualidades, certamente prevalecerá o corpo de colaboradores treinado, capaz reagir e até tirar proveito da adversidade. Isso não significa, porém, que as demais estarão todas condenadas ao insucesso. Muito pelo contrário, ainda há tempo de arrumar a casa.

Vale o exemplo de uma conhecida grande empresa paulista do setor de eletrodomésticos que há um mês, percebendo sinais de queda inesperada de vendas por causa das incertezas do crédito, reuniu seus gerentes e de lá saiu a idéia de antecipar vendas de Natal. A reação das vendas é considerada excelente.

* Hélio Rangel Terra, formado em Ciências Contábeis com pós-graduação em Harvard, é Presidente da Ricardo Xavier Recursos Humanos. Mais informações no site www.ricardoxavier.com.br