Newsletter subscribe



Artigos

Trote na faculdade e na empresa: uma experiência necessária?

Posted: 2 de fevereiro de 2012 às 7:39 pm   /   by   /   comments (0)

 

por Nelson Fukuyama*

Quem já foi calouro de uma faculdade ou de uma empresa deve se lembrar daqueles momentos em que ficaram à disposição de um grupo de veteranos que, por um motivo nem sempre justificável, sem sentiram, por algumas horas ou mesmo dias, seus verdadeiros donos e patrões, sujeitando você e tantos jovens a experiências que podem ter ficado guardadas para o resto de suas vidas.

Os tempos não mudaram e as práticas de trote, de uma forma ou de outra, continuam soltas.

Falar em trote em faculdade é até oportuno. Felizmente, boa parte das instituições já aderiram a uma forma de troe suave, um trote onde os calouros participam para arrecadar fundos para fins sociais. Atitude inteligente e louvável, para quem no futuro próximo poderá estar no comando de uma empresa ou de um país. Enobrece o jovem, futuro profissional e as instituições de ensino que promovem práticas como essas.

Já não o caso daquelas nas quais, nos primeiros dias de aula não se fala em outra coisa a não ser em como dominar a “bixarada”. Em todo caso, é comum a gente passar pelas avenidas mais movimentadas da cidade e encontrar jovens pintados, com cabelos cortados, fantasiados, pedindo um “troquinho” para os motoristas parados nos sinais. Não é raro encontrar até alguns acorrentados e com coleiras, com se fossem animais, obedecendo aos sinais de comando de seus “donos”, os veteranos. Grande parte desses calouros é obrigada a arrecadar fundos para as farras promovidas mais tarde em bares da região.

As mesmas práticas de trote podem ocorrer dentro das empresas que acabaram de contratar jovens calouros. Esses também podem receber, por um determinado período de tempo, um tratamento especial por parte de seus colegas veteranos.

Eu mesmo posso lembrar de algumas experiências da minha época de trainee, alias, trainee burro, como éramos carinhosamente chamados na empresa. Vá lá na biblioteca buscar máquina de calcular diferença? Vá buscar o carbono pautado? Eram brincadeirinhas comuns naquela época e os veteranos passavam dias fazendo a gente “pagar um mico” isoladamente ou em grupos. Pagar a conta em restaurante para vários colegas era outro tipo de brincadeira que certamente era mais saudável do que os trote de faculdades mas que deixavam a mesma lembrança de que um dia fomos calouros, já que sempre acabávamos ficando com fama de idiotas temporários perante outros colegas.

O que a gente acaba pensando sobre os trotes em faculdades e empresas vem muito daquilo que a gente sofre ou vê alguém sofrer. O que é difícil de entender são os trotes mais violentos, naqueles em que os jovens são submetidos a torturas como pintura no corpo que podem provocar doenças e lesões irreversíveis, em situações que acabam virando casos de polícia, como infelizmente temos tido oportunidade de saber em todo o país. Pedir fundos para custear bebidas e festinhas de veteranos é outra atividade que não parece nada louvável. Ainda mais que hoje temos uma grande facilidade de acesso a todo tipo de droga.

Já quanto aos trotes dentro das empresas, esses parecem válidos desde que não exponham o jovem profissional e calouro a vexame diante dos demais colegas de trabalho, até porque esses podem reagir de uma maneira inesperada diante de uma brincadeira que eles venham a considerar de mau gosto. Um trote pode ser considerado saudável desde que sirva para facilitar a interação com os demais colegas de trabalho. As empresas devem estar atentas para estimular certas práticas de trote ou proibi-las à medida que venhama considerar que sejam inconvenientes e contra a sua política interna.

* Nelson Fukuyama é Editor do Portal Dicas Profissionais com experiências profissionais vividas em organizações multinacionais e nacionais.

A reprodução total ou parcial é permitida desde que citada a autoria do conteúdo e também o portal Dicas Profissionais www.dicasprofissionais.com.br.